quinta-feira, 23 de junho de 2016

As minhas seis meninas e o seu irmão mais novo!

A maratona (e o trail) do ponto de vista de um atleta de baixa competição!
As minhas seis meninas e o seu irmão mais novo!
Como a maior parte da utilização do perfil de Facebook  é relacionado com as aventuras e brincadeiras do atletismo de baixa competição, tive uma ideia para foto de capa.
Tirava umas fotos individuais às medalhas das maratonas, juntava as mesmas num só espaço e pronto estava uma foto de capa toda cheia de simbolismo. O resultado da foto não foi grande coisa, mas que está carregada de simbolismo, lá isso está!
Tanto está, que senti-me na obrigação de escrever umas linhas sobre isso, para mim aquelas medalhas são material sagrado, material do que são feitos os sonhos. Mas sem a mínima sombra de dúvidas. Não podia deixar passar como se de trivialidades se tratasse.
A época desportiva tem início no July 4, como ficou decidido o ano passado em assembleia geral interna, The Independence Day!
Tenho estado em modo de descanso, sem um único treino de esforço desde o trail dos Açores. A semana passada fiz um acumulado de 4,6kms. Esta semana ainda não pus a vista em cima de calçado desportivo, vai em 0 kms de acumulado!!!
Estou a tentar bater o recorde de inactividade dos últimos cinco anos.
Já agora aproveito esta reflexão, em que vou falar das minhas meninas e dizer que o ano desportivo que aí vem, já tem algumas marcações na agenda. Há vontade para treinar, haja pernas à altura dos acontecimentos!
O July 4 está aí ao virar da esquina!
Vamos lá então às linhas despoletadas pela foto de capa.
Como costumo dizer, somos nós que construímos a nossa história e este pequeno período das maratonas convém realmente ficar bem registado. Estão ali uns belos kms para mais tarde recordar!
Então não é que a minha mais velha já faz três anos em Outubro, a Maratona de Lisboa 2013.
Quem diria?! Realmente o tempo não pára!
Treinos feitos como deve ser, chegava a Cascais para tirar a "carta" de maratonas, sem querer escolhi um sítio como deve ser. Muito bom!
Lisboa 2013 
Um início ao nível da água do mar, ou seja começava mesmo do zero, como mandam as regras.
Ainda mal tinha começado o exame e já o meu coração queria protagonismo. Uma taquicardia obriga-me a ajoelhar durante 10 longos minutos. Ajoelhar, mas ajoelhar com estilo, com vista privilegiada para a magnífica baía de Cascais.
Levei 3h:19m a percorrer os 42.195 metros, mas como o tempo não pára tive de lhe juntar os 10 minutos de paragem forçada.
Tudo somado chegava ao parque das nações 3h:29m depois do início da prova, com um amargo de boca que serviria de motivação para eventos futuros.
Passaram-me a carta, mas não fiquei nada convencido.
Dias depois faço a inscrição na Maratona de Sevilla 2014.
Adoentado na véspera, mas muito bem acompanhado.
Meados de Novembro começam os treinos de preparação, sem grandes percalços, apenas uma pequena nuance. Quando faltavam sete dias para a prova, uma gripe deu descanso às sapatilhas, nem um metro de treino. Na última semana já não há grande coisa a fazer, não seria por aí.
Ingeri litros e litros de mel nessa semana, as abelhas são grandes!
Desta vez não começava ao nível da água do mar, mas Sevilla tem a particularidade de ter um percurso com o mínimo de desníveis, logo diminui um pouco as dificuldades da distância. Tem poucos desníveis, mas tem espanhóis e espanholas a incentivar os participantes que sim senhor!
"Venga Campeon, Venga Luis", ouvi centenas de vezes (dorsais personalizados), só para deixar esclarecido, o meu nome não é Campeon, simplesmente Luis!
Sevilla 2014 
Entrada no estádio, com claque nas bancadas e cruzo a meta 3h:04m depois. Agora sim tinha sido como devia ser, sentia-me realmente "encartado", neste segundo exame passei com distinção!
Como é óbvio, assim que recuperei "os sentidos", só tinha uma localidade no pensamento. Cascais, qual havia de ser?! Tinha que lá voltar, tinha ficado qualquer coisa por fazer!
E aí estava ela, a Maratona de Lisboa 2014!
Com algumas alterações de percurso em relação ao ano anterior, ia começar a maratona mais importante das seis concluídas até hoje. Não disse a mais difícil, essa é outra história. É a mais importante porque tinha como objectivo secreto correr abaixo das 3h:00m, coisa que no amadorismo é o tocar no céu.
Apanhei o pacemaker das 3h:00m ao km 10 da prova, fiquei por ali 16 Kms a aproveitar a "boleia".
Por altura do km 26 pensei, se já tenho carta, porque não tentar arranjar um verbet?!
Saí do grupo para só parar no parque das nações, com o voo consegui tirar alguns segundos por km e as 2h:58m eram simplesmente o reflexo que o resultado do ano anterior, não só não me afectou, como me motivou.
Lisboa 2014 
Cascais/Lisboa forever, dava uma bela tatuagem, não dava? Não vai acontecer!
Com o verbet nas mãos era tempo de arranjar sítio emblemático para por em prática a experiência acumulada.
Tentei Paris, mas como já disse em reflexões anteriores estava "fechada". Consegui inscrição na Maratona de Madrid!
A preparação de Madrid foi a única até agora que correu sem contrariedades, foi cinco estrelas. O resultado disso foi a maratona perfeita!
Madrid 2015 
Chuva e frio de principio ao fim, mas sem vento, um sobe e desce que sim senhor, com a cereja no topo do bolo que são os últimos 7 kms a subir.
O que faz uma preparação como deve ser, 2h:53m depois estava na meta. Apesar de todas as adversidades climáticas foi um voo muito tranquilo, a usar o verbet como deve ser!
Já estava prometido ao Carlos que a próxima aventura seria a Maratona do Porto, ia correr com o pessoal do CAL. Aliás foi nessa altura que assinei o contrato milionário com o clube, envolveu muitos zeros, é só o que posso dizer. Existe uma cláusula de confidencialidade!!!
O plano de treinos foi interrompido várias vezes por lesões, não correu nada bem, não era bom presságio.
Já  escrevi isto várias vezes e vou voltar a fazê-lo.
Existe um antes e um depois da Maratona do Porto!
A mais dura e a mais saborosa de todas, provei ali o pão que o Diabo amassou. Só que para lá de ter sido amassado pelo Diabo, já tinha uns dias, era um pão muito, muito duro de roer!
Porto 2015 
Experimentei sofrimento que não sabia que existia, é sempre bom certas descobertas, trazem novos pontos de vista!
Consegui não me despenhar, aguentei o voo dentro dos limites, 2h:59m foi a sua duração.
Foi sem dúvida a minha Maratona Gourmet, sem a mínima sombra de dúvida!
E em cinco anos de corrida e três de maratonas, só já falta falar da minha mais nova, a elegante Maratona de Paris.
Ainda estou a recuperar dessa aventura!
Uma parte da preparação da prova foi para esquecer, uma lesão num joelho deixou-me a cabeça feita num oito.
Existe uma culpada para a Maratona de Paris ter sido o que foi. Nem mais nem menos do que a meia-maratona de Lisboa 2016.
Conseguir cumprir uma promessa de cinco anos, tirar uma hora à minha primeira meia-maratona, foi o tranquilizante que faltava para limpar a cabeça daquela "lixada" lesão no joelho!
Paris 2016 
Cheguei tão tranquilo à prova, que ao longo daqueles 42.195 m gastei todo o oxigénio que possuía, os níveis chegaram um nadinha negativos, uns dez minutos depois já estavam repostos.
Já conseguia reconhecer um Arco que eles tem lá no meio da cidade.
Umas cervejas Heineken a seguir também deram uma ajudinha!
Era merecido, estava a comemorar o voo mais rápido de sempre, 2h:52m.
Não fiquei surpreendido,
Meia-maratona Lisboa 2016 
depois daquela 1h:19m da meia-maratona de Lisboa, sabia que era possível!
O que dizer do irmão mais novo destas meninas?!
Azores Blue Island Ultra Trail!
Foi uma experiência extraordinária, ainda muito presente, a desanuviar da estrada como deve ser, num ambiente magnífico.
70 Kms percorridos ao longo de 10h55m com várias estações do ano à mistura. Ainda consigo sentir o cheiro, da noite, do dia, do sol, da chuva, do frio, do vento, da lama, das pessoas!
Azores 2016 
Não, não andei a cheirar as pessoas, foi uma forma de humanizar o discurso. Mas no fundo foi muito isso, uma prova com pessoas. Pessoas como deve ser. Foi muito bom!
Também foi muito bom ter pensado em alterar a foto de capa, não ficou grande coisa, mas obrigou-me a juntar no mesmo texto as provas mais importantes da minha história!
São as minhas seis meninas e o seu irmão mais novo!
Boas corridas!

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Azores Blue Island Ultra Trail // 70 kms

A maratona (e o trail) do ponto de vista de um atleta de baixa competição!
Azores Blue Island Ultra Trail!
Há um antes e um depois da Maratona do Porto, já disse isto algumas vezes, mas cada vez faz mais sentido.
A maratona do Porto foi como que a explosão de uma granada. Explosão essa que me tem feito chegar estilhaço atrás de estilhaço. Ficam gravados na pele como tatuagens invisíveis, mas cheias de significado!
No fim da prova que mais sofri até hoje, sou confrontado pelo Carlos Cardoso.
- Tive aqui a pensar e cheguei à conclusão que tens duas opções para fazeres parte do CAL!
- Sério! Quais?
- Ou fazes parte a bem, ou fazes parte a mal.
E tens participar num trail com o pessoal!!!
E pronto, dia 8 de Novembro de 2015 começa o Azores Blue Island Ultra Trail. A conversa com o Carlos pode não ter sido bem assim, mas isso agora não interessa nada. O trail dos Açores começou mesmo nesse dia!
Dia 27 de Maio de 2016, aterra o avião na ilha do Faial, como fazia parte da comitiva deixei-me ir, não havia volta a dar!
Como nunca sei como é que as histórias que começo vão acabar, vou aproveitar para fazer já um comentário à organização.
Lembrar-me da organização, faz-me logo lembrar de uma pedra no sapato. Mas ao contrário do que possa parecer não é uma metáfora encapotada, em que vem aí crítica por isto ou por aquilo!
Numa fase já avançada da prova, uma  parte com mais vento, chuva e frio, entra uma pedra para dentro da sapatilha. Aguentei alguns kms, mas estava a ser insuportável, tive que parar para tentar resolver o problema.
Dedos gelados, sem sensibilidade e não querer parar muito tempo. Iria ser missão impossível!
Uma das colaboradoras da organização por perto percebeu a situação, descalçou-me a sapatilha, tirou o duplo nó dos cordões, fez sair a pedra e voltou a calçar-me.
Acho que esta situação faz bem um resumo de todo o resto, pessoas super disponíveis para ajudar, sem um único defeito a apontar. Sem um defeito a apontar, mas com mil coisas a agradecer. Muito, muito obrigado!
70 Kms sempre são 70 kms, nunca será fácil fazer grande resumo, vou dividir por itens de forma a (tentar) conseguir concluir esta reflexão!

Clube Atletismo Lamas

Esta prova nos Açores foi feita com o pessoal do CAL sempre presente, tentar correr um pouco por todos com o espírito de grupo que existe. Foi lá que fui fazer o primeiro treino de trail, foi só transportar para o terreno o que tinha sentido e aprendido em Canedo, foi facílimo!

Carlos Cardoso

O culpado disto tudo!
Nem me obrigou a assinar pelo CAL, nem me obrigou a ir ao Azores Blue Island Ultra Trail, muito longe disso!
O Carlos era para ter participado na prova, pelo menos por dois motivos.
Em primeiro porque queria muito, e em segundo porque estava dentro dos planos de treino de preparação para a aventura que tem marcada para o fim de Agosto, Mont Blanc na distância de 101 kms (CCC).
A parte profissional não o permitiu,  todos sabemos que a corrida não pode ser a prioridade, por muito que custe.
Eu na altura e por arrasto acabo por escolher esta corrida para a primeira participação em trilhos a sério.
O CAL em vez de três, passou a dois representantes. Eu e o Filipe Fontes!
Ainda deu para partilhar um bocado de corrida com o Filipe, sempre com a boa disposição à flor da pele. Sempre "sem stress", grande Filipe!
A verdade é que o Carlos continuava a ser o culpado disto tudo.
O facto de ele não poder participar, fazia subir a "responsabilidade" de fazer uma boa prestação.
Felizmente isso aconteceu, é uma forma de "pagar" a experiência que eu passei, experiência cinco estrelas!

Jerome Esteves

Conheci o Jerome no vão de escada do primeiro andar até ao átrio da residêncial onde iria ficar hospedado.
Ele para mim.
-Afinal somos colegas de quarto e tal, não sabia que ía haver quartos divididos. Ressonas durante a noite? É que eu tenho mesmo que dormir!
Dei uma resposta elaborada, mas o que interessa foi o fim. Não, não ressono!!!
Isto já de saída da residencial para o secretariado da prova.
Num dos passeios da rua apresentou-me um casal.
-É o Diogo e a Patrícia, um casal amigo que vem participar na prova.
Do outro lado da rua apresentou-me outro casal.
-É a minha mãe e o meu pai, a Sra Monique e o Sr Américo!
Epá, já tinha passado muito tempo que se conhecíamos, mais ou menos uns dois minutos. E pronto já tinha arranjado uma família de acolhimento!
Fomos recolher os dorsais. E depois, ficámos para o briefing?
Não ficámos, o Jerome disse que já tinha ouvido muitos briefings. Afinal íamos ao Peter's, nada de briefings!
Foi uma sorte do caraças o colega de quarto.
O Jerome tem histórico e performances como deve ser na disciplina do trail, basta dizer que vai também participar no Mont Blanc, na distância de 170 kms (UTMB). E as "licenças" de participação nas distâncias do Mont Blanc não são propriamente por dá cá aquela palha!
A preparação da prova ouvindo conselhos de quem sabe e copiando comportamentos, fez toda a diferença. A prova nunca teria sido o que foi sem o Jerome, nem de perto nem de longe!

Carla André

A Carla André é uma rapariga que se dedica às corridas, só que às vezes exagera um bocadinho nas distâncias, vai a certos e determinados sítios e fica por lá a correr durante muito tempo!
Há vasta informação sobre os seus desempenhos por essa Internet fora. Dizer por exemplo, que agora está de malas feitas para ir fazer 217 kms dia 18 de Julho em condições, que sim senhor!
Vai ser a primeira representante feminina de Portugal a participar na Badwater, uma das mais exigentes provas do planeta Terra. Por acaso não tenho ouvido falar em provas de atletismo alienígenas, mas quem é que sabe?!
Aproveitou e veio participar nos 70 kms dos Açores, sempre com algum receio de se lesionar, muito perceptível.
A rapariga faz da resistência e resiliência a sua imagem de marca, essa prova nos EUA vai correr bem!
No dia seguinte, foi com a Carla e o Jerome que tive a fazer o rescaldo da prova açoriana.
Muito simpática e óptima companhia. Temos alguns hábitos e objectivos comuns no que às corridas diz respeito. No próprio dia chegou a fazer equipa comigo para tentar convencer o Jerome a...!
Para tentar convencer o Jerome a fazer uma maratona.
Não perdemos a luta, ele "prometeu" que irá fazer uma maratona. Só com um pormenor, será depois de nadar e andar de bicicleta uma remessa de kms. É isso mesmo, num Iroman!!!
Nota-se que tive alguma sorte nas minhas companhias. Nota-se não é!

Sra Monique e Sr Américo

Agora aqui é que estão as dificuldades!
Tive toda a tarde da véspera com o Jerome, o Diogo, a Patrícia, a sra Monique e o sr Américo!
Fiquei a saber que os pais do Jerome também iam participar na prova. Pensei é que essa participação seria em terrenos com menos dificuldades, apesar dos 23 kms!
Quando me cruzei com eles na prova, não queria acreditar que eles tinham que ir pelos mesmo trilhos que eu estava a passar. Não queria acreditar!
Perguntei inúmeras vezes a atletas nas proximidades se o percurso que eles tinham que fazer, era aquele que estávamos a passar. Eu não queria acreditar!
Muito frio, muita lama, subidas íngremes, descidas com um lamaçal terrível, etc etc etc etc!
Não se diz a idade das senhoras, mas o sr Américo tem 83 anos, não me enganei, 83 anos!!!
Serão inesquecíveis para o resto da vida, pela lição que me deram, eu ainda hoje estou a desejar que eles não precisem de passar por aquilo. Mas já passaram, e chegaram à meta com uma dignidade enorme!
Foi extraordinário ver o Jerome e o Diogo, ir ter com eles para partilhar as centenas de metros finais. Muito bom!
Sabem qual era a grande preocupação da sra Monique na chegada?
Parece a ser mentira!
Estava preocupada com a participação da Patrícia por aqueles trilhos. Dá para acreditar?!
Conheci um casal maravilhoso, a sra Monique e o sr Américo, muito obrigado por isso!

Uma estreia em trilhos como deve ser!
Fica mais que provado que sozinhos não fazemos nada.
Um enorme obrigado a todas as pessoas que mencionei na reflexão e a todas as pessoas que directa ou indirectamente fazem parte destas minhas aventuras na corrida.
É óbvio que tenho uma fonte de energia inesgotável, nas maiores dificuldades são os meus filhotes que fazem o último esforço, dão mais um passo, fazem mais um metro. Nunca falham!

Principalmente por não ter podido participar, mas também por ser o culpado disto tudo, a prova tem uma dedicatória particular, Carlos Cardoso!
Obrigado e um forte abraço!

Boas corridas!